sábado, 5 de dezembro de 2009

"Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino "

Nesse árido universo, movido por interesses hegemônicos, que manipulam e produzem "violência simbólica", não há espaço para valores como humanidade, solidariedade e bem-estar coletivo.
As doenças são cada vez mais avassaladoras e as indústrias farmacêuticas se tornam cada vez mais poderosas no Ocidente. É o mundo dos paradoxos, das desigualdades, do desemprego estrutural; é o mundo globalizado, no qual convivemos com a barbárie dentro das nossas casas, com as mutilações, com os fuzilamentos coletivos e com os sobressaltos da possibilidade de uma Terceria Guerra Mundial; e o mundo do crack e do êxtase; é o mundo da inversão de valores entre o público e o privado. Valores como igualdade, fraternidade e liberdade dão lugar ao individualismo de uma cultura de sensações em que o ser humano perde sua identidade (Costa, 1999).

Em síntese, podemos dizer que esses fatores são o "envelope cultural" dos transtornos do comportamento alimentar, em suas diferentes modalidades – anorexia, bulimia, transtornos alimentares não específicos. Com efeito, os quadros de anorexia (restritiva e/ou purgativa) e bulimia (purgativa e/ou sem purgação) apresentam-se intimamente relacionados por manifestarem psicopatologia comum: uma idéia prevalente envolvendo a preocupação excessiva com o peso e a forma corporal, expressa como um medo mórbido de engordar (Azevedo, 1996; Hercovici, 1997; Hercovici & Bay, 1997; Buckroyd, 2000).
Em ambos os casos, a baixa auto-estima e a insatisfação com a imagem corporal são fatores de risco para transtornos alimentares, levando a um julgamento de si indevidamente baseado na forma física, cuja avaliação se encontra comprometida por uma distorção cognitiva da percepção da auto-imagem, debilitada por práticas inadequadas de controle de peso e comportamentos alimentares anormais (Fairburn et al., 1997; Fairburn et al., 1999).

Esses quadros constituem, hoje, uma "epidemia silenciosa" (Bosi,1998) - talvez por isso, ainda não reconhecida pelas políticas públicas no setor da saúde - cuja eclosão estamos presenciando neste início de milênio, e cuja essência guarda em si uma complexidade de dimensões apontando na legitimidade de sua dor psíquica as determinações da dor somática (Andrade & Bosi, 1998).

O corpo passa a ser o canteiro dos rituais obsessivos que levam indivíduos a negar suas necessidades básicas, lançando-se em um círculo vicioso e obsessivo entre dietas restritivas, jejuns prolongados e rígidos controles sobre a ingesta, o corpo e a imagem corporal (Robell, 1997). A outra face do espelho, refletindo o caos nutricional (Andrade, 1998), revela-se por períodos de orgias alimentares, binge-eating, para em seguida forçar o vômito e ingerir laxantes e diuréticos de forma abusiva, na busca incessante pela magreza.

Fonte: Revista de Nutrição

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